sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Ironman Florida 2012: A Minha Jornada!


O importante não é o destino, mas sim a jornada!!! E a minha jornada até cruzar o pórtico de chegada do Ironman Florida 2012 foi simplesmente incrível e inacreditável!!! Aconteceu de tudo!!!

Normalmente o ciclo de treinos visando uma prova de ironman, leva em torno de 16 a 20 semanas. Diante de inúmeras incertezas nesse período, onde quase fui obrigado a cancelar o projeto, só pude confirmar a minha ida faltando somente 6 semanas para a prova. Só aí então, consegui realizar os treinos específicos e pude focar na prova. Isso mesmo, tive somente 6 semanas de preparação para o Ironman Florida 2012. Uma loucura? Sem dúvida! Tive que trabalhar muito a confiança nesse curto espaço de tempo. Outro detalhe na minha preparação é que estava sem treinador e fiz todos os treinos da minha cabeça e sozinho.

Faltando 10 dias para a competição, a minha garganta ficou bastante inflamada, com muita secreção (verde) e tossindo bastante. Ainda em Fortaleza, fui ao médico, segui todas as orientações e medicamentos. Fiquei sem treinar, em repouso total.

Chega segunda-feira (29/10), dia do embarque até Miami. No mesmo vôo estão os amigos: Thor e sua esposa Carla; Pepinho e sua esposa Eveline; Leônidas e sua esposa Mariusha, e Thiago Mohana. Viajei bem preocupado, pois já tinha se passado 5 dias e nada de melhora na minha garganta. Pra piorar, quando cheguei em Miami o clima estava bem frio e o vento gelado irritava mais ainda a garganta. Iríamos dormir em Miami e na manhã seguinte seguiríamos de carro até Orlando (380km). Nessa noite não consegui dormir, tossindo bastante, nariz completamente entupido e com dificuldade pra respirar. Infelizmente, nos dias seguintes esse quadro se repetiria em todas as noites.

Na terça-feira (30/10), tivemos uma viagem tranquila até Orlando, curtindo a bela paisagem. Chegando lá se juntam a nós a minha esposa Erika e o casal Ulisses e Cecília. Aproveitamos para ir a loja Orange Cycles para comprar o que faltava para a prova. Iríamos dormir em Orlando para na manhã seguinte seguir até o local da prova, a bela Panamá City Beach.

Quarta-feira (31/10), e pela frente um dia longo e bem cansativo de viagem. Do nosso hotel em Orlando até o hotel em Panamá City Beach, 629km de estrada. Saímos de Orlando as 10h e chegamos no destino as 5:30 da tarde. Visual também show!!!

Eu e Erika ficamos hospedados no Laketown Wharf que era um dos hotéis oficiais do evento. Os competidores tiveram 20% off no preço do pacote. O período da hospedagem foi de quarta-feira até domingo. A prova sempre é no sábado. O valor total para o período saiu por US$469,73 com pagamento inicial de US$156,10 em 01/12/11 e o restante no ato do check-in (US$364,80). Noites adicionais para atletas no valor de US$75 e o late check-out no domingo (3pm) por US$25. Ficamos em um apartamento com 2 dormitórios e com uma estrutura completa, com cozinha toda equipada, lavadora de pratos, lavadora de roupa, geladeira com fábrica de gelo e tudo novinho. Da varanda do 17º andar tínhamos um visual espetacular, com vista para o mar e para o local da prova. Do hotel até a cidade Ironman, uma caminhada de 400m. Ao lado do hotel tem um Wallmart onde você encontra tudo pra abastecer a cozinha e a geladeira. O hotel disponibiliza internet e estacionamento grátis. Recomendo 100% esse belo hotel!


Na quinta-feira (01/11) começa uma verdadeira saga atrás de atendimento médico, pois até aquele momento eu não obtinha melhora e assim vivi o drama de não poder largar no sábado. Vi o quanto é importante adquirir um seguro de viagem. Diga-se de passagem o pessoal da Vital Card foi show e nos direcionou para uma clínica em Panamá City Beach. Chegando lá, encontramos resistência em me atender, e após uma longa conversa telefônica entre a seguradora e a clínica, a Vital Card fez o depósito do valor que eles pediram e só assim pude ser atendido. O médico confirmou a inflamação na garganta por bactéria e saí de lá com as receitas dos medicamentos para conter a inflamação e a tosse. Seguimos direto para a farmácia. Agora era torcer e rezar bastante para o milagre acontecer. Até aquele momento, já se passavam 8 dias sem treino.


Pela parte da manhã, além da minha ida a clínica, fiz o check-in da prova. Fui logo cedo, as 9h, e já tinha uma pequena fila. Detalhe para os atenciosos e bem humorados voluntários. Todos os atletas inscritos ganharam uma bela mochila. Muito bacana!!! No kit recebemos 5 sacolas nas cores: vermelha (corrida) , azul (bike), verde (para objetos pessoais como chaves do carro, hotel, etc), preta (special needs corrida) e laranja (special needs bike). Tudo certo! Chip conferido, check-in realizado e pulseira no braço com o número 2154.


Retornei ao hotel para montar a bike e desci para fazer um teste. Rodei só 2km e aparentemente estava tudo ok. Procurei descansar o resto do dia e apesar de não ter ainda a certeza de largar, fui preparando os itens que usaria na prova em suas respectivas sacolas.

Chega a sexta-feira (02/11), véspera da prova. Acordo um pouco melhor. O suficiente para tomar a decisão de que iria largar mesmo sem estar 100% de saúde e confiança. Decidido a lutar pelo meu sonho, mesmo com a grande dúvida dele não se realizar. Foi um dia de aflição! Minha cabeça a mil! Adrenalina! O horário para o bike check-in era de 10:00 as 15:00. Saí do hotel perto do meio-dia e fui caminhando calmamente com a Erika, levando a bike e as sacolas de corrida e bike. Alguns detalhes do bike check-in e da área de transição: não é permitido deixar a sapatilha na bike entre os amadores. Só os profissionais podem deixar a sapatilha na bike. Os amadores tem que deixar na sacola. Também não é permitido colocar capa na bike. Só pode cobrir o selim e a frente. A sacola de bike fica em um lugar e a sacola de corrida fica em outro lugar. As sacolas ficam no chão e alguns atletas usaram fitas coloridas para melhorar a identificação diante de tantas sacolas juntas. Gostei da ideia! Minha bike ficou posicionada bem na saída da transição, e portanto ficou bem fácil de identificar.


Após o bike check-in, retorno ao hotel para descansar e preparar toda a parte nutricional para o dia seguinte. Um momento marcante desse dia foi já a noite, escutando uma rádio local, quando tocou a música tema do meu primeiro Ironman. Viva La Vida - Coldplay. Não contive as lagrimas e cresceu o desejo de na manhã seguinte concluir meu 4º Ironman. Agora era dormir e aguardar O Grande Dia!

Acordo pontualmente as 04:00 da madrugada do sábado (03/11) e começo o ritual preparatório para a prova. A área de transição ficou aberta das 04:30 as 06:30. Perto de 05:00 deixei o hotel e segui para a área de transição. Ainda estava bem escuro. Foi feita a marcação do meu número nos braços e a minha idade na panturrilha esquerda. Em seguida entro na transição e vou direto pra bike para abastecê-la com os gels, pãezinhos, encher o aerodrink com Accelerade e encher os pneus da bike. Uma dica é levar uma lanterna, pois não dava pra enxergar direito. Depois fui até as sacolas de bike e corrida para checar se estavam todas ok e tudo certo! Agora era vestir a roupa de borracha e aguardar o tiro de largada.

Os profissionais no masculino e feminino largam antes dos amadores. Na verdade foram 3 largadas: pro masculino, pro feminino e amadores. Entrei no curral de largada faltando uns 15 minutos e me posicionei na extrema esquerda, alinhado as boias. O percurso é retangular e seria realizado em 2 (duas) voltas no sentido anti-horário, tendo que sair da água ao final da primeira volta, depois correr uns 50m e retornar ao mar para a segunda volta. As condições do mar não estavam tão boas. Não tava lisinho como de costume. Mar mexido, com ondulações altas, mas a temperatura estava agradável e contamos com um percurso raiado, com boias intermediárias sinalizando o melhor caminho. Para a minha alegria, antes da largada encontro com o amigo Luciano Petri.


Pontualmente as 07:00, com um tiro de mini canhão, foi dada a largada para o Ironman Florida 2012. Como se já não bastasse tudo que vivi antes da prova com os problemas de saúde, logo no início da natação levei um chute muito forte na altura da minha costela. Gritei alto de dor! Pensei na hora, o que falta mais acontecer comigo?! Momento de tensão e procurei seguir em frente já com desconforto. Finalizo a primeira volta com a boa parcial de 30min e com o pensamento de ir mais rápido na segunda volta, mas as dores na costela incomodavam com a rotação do tronco, e mais ainda pra mim que respiro pro lado direito, forçando o lado esquerdo onde levei a pancada. Então acabei sendo mais lento nessa segunda volta. Mesmo assim considero que fiz uma boa etapa de natação, concluindo os 3,8km do percurso em 1h05m.

A transição é um pouco longa, aliada a minha tradicional lentidão na T1, onde me embananei todo para vestir o corta-vento, e  levei 08:01 para sair da transição e iniciar a etapa de bike.

O percurso de bike seria realizado em volta única de 180km. Show! Estava curioso e ansioso para sentir esse percurso. Levamos uns 12km para sair da cidade e começar a parte do percurso na estrada. Pegamos nesse início uma neblina e o clima estava frio mas agradável. Várias retas com asfalto excelente, quase sem vento e até a altura do km 90, onde faríamos o retorno, a média de velocidade só aumentava e cheguei a atingir 35,8 de média. Fui curtindo bastante o visual e a prova. Como estava bom demais pra ser verdade (rsrsrs), um pouco antes do retorno, pegamos uns 15km de trecho com asfalto bem ruim, trincado, com falhas, e a bike batia o tempo todo. Resultado, o meu clip afrouxou e fiquei com um grande receio de ir ao chão. Momento de tensão, onde tive que diminuir a velocidade, puxando o clip pra posição original várias vezes, até passar esse trecho ruim. As sacolas de special needs ficavam logo após o retorno dos 90km, mas não quis usar a special needs da bike. Larguei com toda a minha nutrição para os 180km. Passado esse trecho ruim, comecei a sentir de forma mais intensa os efeitos do forte chute que levei na natação. Simplesmente não conseguia mais ficar na posição aerodinâmica, no clip. Doía muito! O clima esquentou bastante e abriu um sol pra cada um. O vento também deu o ar da graça e entrou legal. Tivemos algumas subidas nessa parte do percurso de retorno, mas nenhuma de grande dificuldade. Comecei a perder rendimento e oscilei bastante de humor. O pior momento foi entre os kilômetros 105 e 150. Sofri demais com as dores, o calor e também fiquei um pouco enjoado. Só pensava em chegar. A partir do km 151 até o final, melhorei o ânimo. No km 175, ou seja, faltando 5km para o fim, o pneu traseiro da minha bike estourou e decidi que não iria parar. Segui 5km com o pneu no chão, pedalando em pé, sem poder sentar no selim. Mesmo com tudo isso, fiquei impressionado com a minha parcial ao final dos 180km de bike com o ótimo tempo de 5h15m, média de 34,1. Simplesmente a minha melhor parcial de bike em 4 ironman's. Show! Fiquei bem feliz e ansioso pela maratona que viria a seguir.

Entro na transição, pego a minha sacola de corrida e faço uma T2 com um tempo aceitável, pois ainda fui ao banheiro. Levei 04:02 para sair da transição e começar a maratona. As minhas pernas estavam leves, porém não conseguia correr com as dores na costela. Senti uma dificuldade enorme para respirar e corri travado. Que desespero! Teríamos pela frente 2(duas) voltas longas de 21km. Nessa primeira volta, tique que andar em alguns pontos para recuperar o fôlego e quando voltava a correr era de forma bem sofrida. Levei 2h05m para concluir a primeira volta. Rezei bastante pedindo um milagre! Além do sofrimento das dores, tinha também o sofrimento de não poder concluir a prova. Abro a segunda volta, e as minhas orações são atendidas. Disse ao meu Senhor, não desejo a minha glória, mas que tu sejas glorificado hoje, através da minha fé. O mal não podia vencer, apesar de tentar de tudo para me derrotar, mas eu preferi ouvir a voz da verdade, e ela deve prevalecer e vencer sempre. Fiquei muito emocionado, as dores deram uma pequena trégua e aproveitei para encaixar uma corrida um pouco melhor. Não andei mais nesses últimos 21km da maratona e o percurso totalmente plano ajudou. Só fiquei um pouco enjoado a ponto de não mais entrar gel, e fui me abastecendo somente com coca-cola e água. Muitos postos de abastecimento no percurso com: água, coca-cola, gel, isotônico, banana. A maior parte do percurso é dentro de uma área residencial e cheio de pequenos "S". Faltando 1 milha para chegar, sou todo emoção e fico arrepiado. Choro copiosamente e começa a passar um filme na minha cabeça de tudo que aconteceu até aquele momento. Inacreditável! Como eu tinha conseguido passar por tantos obstáculos? Sendo que alguns deles julguei intransponíveis! Um turbilhão de sentimentos e sensações se irradiou pelo meu corpo. Lembrei de tantos amigos e familiares queridos na torcida e aflitos pela minha condição de saúde antes da prova. Que loucura o que vivi naquele momento! Entrei no corredor final, sozinho, ovacionado pelas pessoas e cruzei o pórtico mágico do Ironman Florida 2012 exausto da longa batalha, mas com uma felicidade indomável.

Simplesmente não dá para explicar algo que faz você se sentir tão pleno, realizado, e que te leva a um encontro face a face com o seu eu interior, do qual muitas vezes fugimos, pois ele sabe melhor do que ninguém das nossas fraquezas, medos, e quando estamos no Ironman essa batalha é inevitável e tudo se acentua, se torna doloroso, mas ao cruzar aquele pórtico da chegada, temos a certeza que ao vencer a batalha externa, tivemos primeiramente que vencer a batalha interna. Vencemos a nós mesmos.

Quanto ao resultado, vi que mesmo não sendo a minha melhor marca em 4 ironman's concluídos, foi a minha melhor colocação na categoria (49/564) e no geral (246/3061). A minha categoria 40-44 anos teve o maior número de inscritos.

Um dia após a prova, estivemos diante de um novo recorde impressionante!!! Em menos de 1 minuto todas as vagas para o Ironman Florida 2013 se esgotaram na internet. Eu presenciei no local a imensa fila dos voluntários desse ano que tiveram preferencia na inscrição de 2013, bem como os atletas inscritos em 2012 que também tiveram preferencia. Awesome!!!

Clique aqui para obter todas as informações e resultados do Ironman Florida.




No retorno a Fortaleza, como ainda estava sentindo muitas dores e incômodo na região da costela, resolvi ir ao médico na quinta-feira (08/11) para tirar um raio-x. Não houve fratura, mas sim uma inflamação no nervo da região. O doutor disse que os sintomas de fortes dores causados pela inflamação, são os mesmos de uma fratura, o que diferencia é o tempo de recuperação de um quadro para o outro. No caso de fratura demora mais, no caso da inflamação leva menos tempo pra recuperar. O médico ficou impressionado como eu tinha suportado mais de 10h de prova com essas dores. Disse a ele que até agora não sabia de onde tinha tirado tanta força para suportar. Passou um tratamento com medicamentos e gelo por 12 dias e claro, repouso. Inacreditável!!! Quando digo que foi um milagre eu concluir essa prova, não exagerei!!!