O circuito de provas Ironman 70.3 (1900m natação - 90km ciclismo - 21km corrida) culminou com o seu campeonato mundial em Clearwater na Flórida, no dia 14 de novembro de 2009. Mais de 1.800 (61 brasileiros) triatletas do mundo todo, que ganharam o direito de competir no Foster Grant Ironman 70.3 World Championship, por qualificação em um dos 33 eventos de Ironman 70.3 realizados em todo o mundo. Uma final de Copa do Mundo somente com os melhores. Conquistei a vaga para esse grande evento no Ironman Brasil 70.3 Penha, em agosto de 2009. Ali, em Penha, o primeiro ato desse grande sonho tinha se tornado realidade. Agora viria pela frente o segundo e emocionante ato: o Mundial.
Quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Embarco com destino a cidade de Miami-Estados Unidos, numa viagem longa de 12 horas de duração. No mesmo vôo, estão comigo o casal de amigos Humberto(Pepinho) e Eveline, que curtiriam férias nos States e de quebra seriam meus staffs de luxo. Eles foram fundamentais durante toda a viagem. Agradeço muito o carinho e a atenção dos dois. Show! Minha esposa Erika, tinha ido na frente e já estava em Miami a nossa espera. Sou um privilegiado. Teria 3 staffs para me dar suporte. A Erika até já virou staff profissional e sabe de tudo o que preciso. Sensacional! Isso me dava muita tranquilidade. Valeu minha linda! Optei por fazer uma viagem até Clearwater em duas etapas para não ser tão cansativo. Por isso, o plano era chegar na noite de quarta-feira em Miami, dormir por lá, e na manhã de quinta-feira seguir de carro até Clearwater, qui ficava a 460km de Miami. Ficamos hospedados em um hotel em South Beach. Após a longa viagem, estava faminto e saímos para jantar e conhecer um pouco o local. Andamos pelos vários quarteirões da orla, com vários restaurantes e bares, muita agitação e uma energia incrível. E olha que era uma quarta-feira. Fiquei imaginando como seria no final de semana. Show!
Quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Acordo cedo, tomo meu café da manhã e saio para curtir a beleza de South Beach antes de pegar a estrada rumo a Clearwater. Faço um passeio pela praia e fico contemplando o local. Lindo demais. Gostei muito da cidade de Miami. Inclusive, em outubro de 2010 a cidade terá a sua edição de estréia do Ironman 70.3 e estarei lá (hehehe). Ainda deu tempo de dar um passeio rápido pela cidade e almoçarmos em Coco Walk. Agora, era calibrar o GPS e seguir até Clearwater. Inacreditável a qualidade das estradas nos States. Um tapete. Fizemos uma viagem tranquila e chegamos ao hotel no início da noite. Ficaríamos hospedados ao lado do evento. Colado mesmo. Isso foi muito importante e dava muita tranquilidade para ir e vir com rapidez as várias áreas do evento. A primeira coisa que fiz ao entrar no quarto do hotel, foi montar a bike. Após vários minutos de tentativa, finalmente ela estava pronta. Confesso que não tenho habilidade para isso (rsrsrsrs). Depois saímos para jantar no Hooters e na sequência de volta pro hotel para dormir. Pense como eu estava cansado. Não tive uma noite de sono muito tranquila em virtude de uma tosse que incomodava bastante.
Sexta-feira, 13 de novembro de 2009 (Véspera da Prova)
Esse dia passou voando. Foi uma correria só. Pela parte da manhã fiquei o tempo todo na área do evento, indo de loja em loja da feira (quase fiquei louco... rsrsrsrs) e depois fui pegar o kit da prova, onde a fila estava grande. Conferi todos os itens do kit, testei o chip e tudo certo. Agora era sair para almoçar e na sequência comprar os gels e outros itens de hidratação. Voltei para o hotel por volta das 15h e fui fazer um treino de bike para verificar se tudo estava ok. Beleza! Tudo ok com a bike. Subi até o quarto e fui preparar as sacolas de bike e corrida com os itens que seriam utilizados na prova. O bike check-in teria que ser feito até as 18h. Cheguei as 17:30 e fui muito bem atendido pelo staff que teve toda a paciência do mundo e explicava tudo bem detalhado. Marquei o ponto onde a minha bike ficou para não ter erro. A área de transição era grande. Fiquei mentalizando cada detalhe do percurso que teria que fazer dentro da área de transição na T1(natação -> bike) e na T2 (bike -> corrida).
Os atletas foram surpreendidos com uma mudança no local da natação, decidida na véspera da prova. Tinha passado um tufão a poucos dias atrás, fazendo com que o mar (Golfo do México) tranquilo e calmo de Clearwater ficasse bastante mexido e com muita correnteza. Estava ventando muito, fazendo também a sensação térmica diminuir e com isso piorar a minha tosse. Bom, fiquei pensando, como eles conseguiram mudar o local da natação, assim de uma hora para outra e dar tudo certo? Impressionante o senso de organização, logística e planejamento dos organizadores. Do outro lado da rua, tinha a baia do Golfo do México, protegida dos ventos e da correnteza. Local perfeito e ideal para a natação. Pois bem, eles numa rapidez incrível, levaram toda a estrutura para lá. Tudo balizado e pronto para o dia da prova. Nos entregaram um mapa com fotos de satélite, explicando a alteração do local e uma carta nos pedindo desculpa pela mudança na véspera, mas salientando que era para beneficiar e proporcionar uma boa natação aos triatletas. Achei aquilo incrível. Quanta preocupação e atenção conosco. Fiquei impressionado. Espetacular. Realmente os americanos dão um show em matéria de organização de evento. Fiquei imaginando como seria se isso tivesse acontecido aqui no Brasil. Será que fariam o mesmo? Provavelmente não. Pois lá, eles não medem esforço, e fazem de tudo para agradar e tornar o evento algo inesquecível e de qualidade. Show!
Saio da área de transição e volto para o hotel com a adrenalina a mil e em êxtase. Estava caindo a ficha que eu iria competir no mundial de Ironman 70.3 e mais ainda quando avistei o grande triatleta americano e um dos favoritos ao título, Matt Reed. Ele estava hospedado no mesmo hotel. O viria novamente no café da manhã de domingo. Uma oportunidade rara de estar frente a frente com um dos gigantes do triathlon mundial. Enfim, eu e a Erika pegamos o carro e fomos jantar. Decidimos passar numa loja de conveniência, pegar a comida e levar para o hotel, onde ficaríamos na varanda do quarto apreciando o mar, o pier, a lua e a área de transição. Meditei bastante e fui dormir tranquilo. Que venha a prova!
Sábado, 14 de novembro de 2009 (O Grande Dia)
Momentos Antes da Largada
Acordo as 5h da manhã e vou direto até a área de transição para fazer a marcação do número nos meus braços. Um detalhe bem legal é que a pintura dos números é feita com uns carimbos. Eles fazem carimbos com os números de 0 a 9. Portanto, em cada mesa tinha 10 carimbos e éramos "tatuados" com esses carimbos, molhados numa espécie de graxa. Inclusive, não podíamos passar qualquer tipo de protetor solar antes. Só depois da marcação. Aqui no Brasil a marcação é feita com caneta a mão livre. Com os carimbos, os números ficam perfeitos no braço e bonitos de se ver. E dessa forma, fui "tatuado" nos dois braços com o número 851. Na sequência, entro na área onde a minha bike estava localizada e verifico se tudo está ok. Calibro os pneus com 160 libras, coloco os gels na bike, a bebida energética no aerodrink e zero o cronômetro do computador. Tudo pronto na bike. Volto para o hotel e tomo o meu café da manhã. A minha largada estava prevista para as 07:25. Como estava ao lado da largada, fiquei descansando um pouco no quarto do hotel e resolvi sair somente as 06:50. Vou caminhando tranquilo na companhia de Erika, Humberto e Eveline. O movimento era grande de atletas, torcedores e staffs da prova. Estava saboreando a energia incrível daquele lugar.
Enfim, chego ao local da largada, e vou identificando a minha "onda". Eu sairia na onda "9", com os atletas da categoria 35-39 anos masculino. Todos nessa "onda" usavam a touca de cor branca. Gostei muito desse conceito de largar por faixa etária em várias "ondas". É bem tranquilo e seguro, sem atropelos. Imagine como seria, se todos os 1800 atletas tivessem que largar ao mesmo tempo. Nessa prova tiveram 16 largadas e todas identificadas pela cor da touca. Perfeito. Na minha onda, estava o triatleta Robson Carneiro, de Joinville, que ganhou a categoria 35-39 anos no Ironman Brasil 70.3 Penha e ficamos conversando e trocando idéias com outro brasileiro que morava nos States. Robson fez uma ótima prova e terminou em quinto lugar.
Chega a vez da minha "onda" e fico bastante emocionado. Me lembro do meu filhão querido Igor, que ficou no Brasil e é a minha fonte de inspiração. Abraço e beijo minha esposa Erika. Humberto e Eveline também me cumprimentam e todos eles me desejam sorte. Quanta responsabilidade.
Natação
Me encho de coragem, faço a minha oração e o sinal da cruz, agradeço ao Senhor tamanho merecimento e vou em direção as águas geladas do Golfo do México em busca da realização de um sonho. As condições eram ideais para uma boa técnica de natação, com o mar liso, sem ondas e correnteza, além de nadarmos com roupa de borracha. O percurso bem balizado com bóias, onde não tinha perigo de errar o caminho. Iniciei um pouco mais lento e fui aumentando o ritmo aos poucos até encaixar a natação. A única dificuldade era o sol no rosto, mas nada que preocupasse. Enfim, concluí a etapa de natação em 31 minutos. Quando olhei para o relógio, não gostei do tempo que fiz. Pelas condições do percurso, achei que dava para ter nadado mais rápido. Agora era correr rápido para a área de transição e começar a etapa de bike. Tínhamos que percorrer um longo caminho até pegar a sacola com os itens da bike, pegar a bike e chegar na área onde podíamos montar nela e sair pedalando. Todo mundo já sabe que sou lento nas transições, mas dessa vez fiz uma transição com um tempo aceitável, em virtude do longo trajeto ao sair da água até a área de monte na bike. Fiz a T1 em 03:56.
Ciclismo
A etapa de bike prometia ser divertida e rápida. Logo no ínicio, temos que passar por uma ponte que é a única subida do percurso e resolvi não atacar ela, fazendo a subida com cautela. Aproveitei para curtir o belo visual da Baia do Golfo do México. Quando cheguei ao cume, aí desci as marchas e começaria uma performance incrível e inacreditável em cima da bike. Ela voava a mais de 40km/h em quase todos os 90km do percurso. As condições do asfalto eram perfeitas, bem lisinho, fazendo o percurso ser extremamente veloz. Em muitos momentos ficava arrepiado e não acreditando que estava andando tão rápido. O visual então nem se fala. Passávamos por locais lindos: pontes, áreas residenciais e bosques. Fiquei impressionado e empolgado, e cada vez mais aumentando o ritmo. Várias vezes ficava pensando se não pagaria um preço muito alto na corrida, mas a alegria e a oportuniade rara de pedalar tão rápido naquele percurso, me faziam não diminuir o ritmo. O ponto lamentável e triste do pedal, foram os vários pelotes formados com cerca de 20 a 30 caras. Todo mundo sabe que é proibido vácuo em provas de Ironman, mas não tem jeito e os caras usam desse artifício para poupar energia para a corrida. Na minha opinião, são falsos Ironman's, pois descaracterizam totalmente o conceito de ser um Ironman. Fiquei indignado e reclamei bastante com os fiscais. Até entre os profissionais os pelotes eram formados. Como pode? Só lamentar e torcer para os organizadores encontrarem uma forma definitiva de coibir isso. Enfim, chego novamente na ponte, aquela do ínicio da prova, e quando olho para o computador da bike fico eufórico com ele marcando 39km/h de média. Inacreditável. Novamente, resolvo não atacar na subida, pois faltava pouco para o fim da etapa de bike. Chega o cume da subida, e aí fui descendo as marchas e realizando a descida da ponte com muita velocidade até entregar a bike aos staffs. Que performance. Fiz os 90km de ciclismo em 2h18m com 39km/h de média. Show! Entrei na transição muito feliz e super confiante para correr. Novamente, teríamos que fazer um longo trajeto até começar a etapa de corrida. Fiz a T2 em 03:18. A Erika e o Humberto estavam vibrando com a minha perfomance na prova. Eu estava superando as expectativas e agora restava uma dúvida: como seria a minha corrida depois de um pedal muito forte.
Corrida
Quando iniciei a correr, senti as minhas pernas leves e firmes. Ótimo sinal. Logo de cara, viria a subida da ponte. Aquela mesma do percurso de pedal. E agora eu teria que subi-la 4 vezes, pois o percurso de corrida seria realizado em duas voltas de 10,5km. Resolvi atacar a subida e fiz muito bem num pace de 4:30 o km. O restante do percurso até voltar a ponte é muito bonito e seletivo. Lá vem a subida da ponte de novo e resolvo atacar. Aproveito para curtir o belo visual. Estou próximo de concluir a primeira volta e fico impressionado com tudo. Muita gente nas ruas com bandeiras dos seus países. Quando finalizo a primeira volta e abro a segunda, olho para o relógio e este marcava 47 minutos para os 10,5km. Se continuasse assim, faria os 21km entre 1h34m e 1h37m. Resolvi diminuir um pouco o ritmo, pois viria a subida da ponte e dessa vez resolvi fazer a subida com mais cautela. Subi bem, só que quando estava descendo, senti uma dor forte na minha costela, do lado direito abaixo da axila. Fiquei preocupado, pois não estava conseguindo respirar direito e ainda faltava uns 8km de corrida pela frente. Tentei aumentar o ritmo, mas não conseguia e fui diminuindo sistematicamente o pace. Eu que estava correndo ali para 4:30 o km, fui aumentando para 04:40, 04:50, 05:00 até 05:30. Tive que fazer ainda umas 3 paradas nos postos de hidratação, para respirar melhor e fiquei pensando como iria fazer a última subida da ponte. Quando começei a subi-la, senti um desconforto maior e tive muita dificuldade até chegar ao cume. Depois, foi usar de muita superação, pois só restaria uns 3km pela frente.
A essa altura, passava um filme pela minha cabeça, lembrando de tudo que tinha passado até chegar ali, dos vários obstáculos, decepções e incertezas se viajaria para o mundial. Agora, eu estava prestes a ser um "finisher" do Mundial de Ironman 70.3 e me emociono bastante e não contenho as lágrimas. Eram lágrimas de dor e alegria, de muita luta e dedicação. Nesses km's finais consigo numa superação incrível, voltar a correr bem e aumento o ritmo já em êxtase total e num estado de felicidade plena. Quando avisto o pórtico de chegada, abro os braços, agradeço a Deus por tamanha benção em minha vida e cruzo a linha de chegada com uma sensação indescritível, que só sabe quem luta, não desiste e vai atrás da realização dos seus sonhos. Fiz os 21km em 1h42m e para minha surpresa concluí o Mundial de Ironman 70.3 em 4h40m. Novo recorde pessoal. Tinha baixado em 18 minutos a antiga marca. Tinha dado tudo certo. Mais do que eu esperava. A cada dia fico mais fascinado e apaixonado pelo mundo do triathlon e em especial as provas de Ironman. Adoro o slogan do Ironman: "Anything Is Possible".
Até hoje, somente 3 cearenses se qualificaram para competir no Mundial de Ironman 70.3 em Clearwater. Os meus companheiros de equipe, Erick e Carvalhinho, estiveram na edição de 2007 e agora eu na edição de 2009. Para a minha imensa alegria, me tornei o cearense com o melhor tempo em mundiais de Ironman 70.3. Quanta honra fazer parte da história!
Informações e Resultados: http://ironman.com/worldchampionship70.3
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Um comentário:
Tudo é possível as pessoas de que aliam fé, trabalho, respeito e compromisso.
Parabéns!
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